Um dia na vida dos pescadores de Orós
A pesca em Orós é contemporânea à criação do açude do município, em janeiro de 1961. Nesses 63 anos de história, três gerações viveram da pesca de peixes e de camarões no segundo maior reservatório do Ceará. A Caravana UFC 70 anos, Trupe Sertão, visitou Orós e conheceu a realidade dessa comunidade.
Hoje, cada uma das cem famílias da região produzem por semana de 60 a 70 quilos de peixes e entre 80 e 100 quilos de camarão. A quantidade é necessária para atender o consumo da região, mas ainda é insuficiente para o sustento da maioria dos pescadores.
O desequilíbrio, segundo Ilialdo de Lima, líder dos pescadores de Orós, está na força dos compradores e no pouco poder de barganha dos trabalhadores. A solução seria a criação de uma cooperativa.
“Precisamos de uma entidade que represente todos os pescadores e negocie por nós. Hoje, quem determina o preço do pescado é o comprador, que sempre joga para baixo”, lamenta Ilialdo, que é integrante atuante da Associação de Pescadores de Orós.
A criação de uma cooperativa é vista pelos pescadores como o segundo grande passo na organização da categoria. A primeira foi em 1977, quando organizaram a associação de pescadores. A entidade possibilitou, por exemplo, a formalização dos associados para obter aposentadoria e auxílio doença. O avanço conquistado garante renda de um salário mínimo a quem completar 60 anos e já beneficiou o pai de Ilialdo.
A família do pescador veio da Paraíba para continuar nas águas do novo açude a mesma atividade da terra natal. E foi com o pai que Ilialdo aprendeu a pescar aos dez anos. O ciclo se repete com os três filhos: um menino de dez anos e duas meninas, uma de 13 anos e outra de 21 anos.
“Eles sempre vão pescar comigo. Vamos eu, o meu menino e a minha esposa. E as meninas também pescam”, diz.
A rotina de trabalho de Ilialdo, como a maioria dos pescadores da região, é feita em duas etapas. A primeira começa às 15h e termina às 18h, quando ele espalha covos pelo açude, nome técnico das armadilhas de camarões, e as redes de náilon para capturar tilápia, pescada e curimatá. Às 4h da manhã, retorna para buscar o que a natureza deixou. A segunda fase da atividade só termina às 8h. A produção resulta em uma renda média de R$ 2 mil por mês.
“Mas tem família que só tem conseguido cerca de 250 reais por semana. Imagina viver só com esse dinheiro. Ainda bem que a gente recebe o Bolsa Família”, diz.