Mãos que moldam histórias em Limoeiro
Lúcia Rodrigues da Silva, carinhosamente conhecida como Mestra Lúcia Pequena, é um símbolo vivo da cultura popular do Vale do Jaguaribe, no Ceará. A Caravana UFC 70 anos, Trupe Sertão, foi ao seu encontro para descobrir seus talentos e histórias.
Natural de Limoeiro do Norte, na comunidade do Córrego de Areia, Lúcia descobriu ainda na infância a paixão pela arte de moldar o barro, habilidade que a acompanhou ao longo de sua vida. Aos 10 anos, começou a esculpir suas primeiras peças, dando início a uma jornada de trabalho com cerâmica, que a consagrou como uma das mais renomadas artesãs da região.
A influência do barro na vida da mestra veio através de pai, José Sebastião da Silva, conhecido como Zé pequeno. O nome “pequeno” se popularizou, pois seu pai era visto como o filho pequeno de José Mercê, avô de Lucia. Além do nome, o ceramista deixou seu legado para o filho Pio, mas apenas Raimunda, Lúcia e Maria deram continuidade às produções.
Lucia relembra que as carroças de boi e Lampião e Maria Bonita eram as peças que ele mais vendia. Sua precisão e criatividade nas peças ganharam notoriedade, inclusive para fora do Ceará.
Na simplicidade da casa deixada pelo pai, Lúcia mora com o irmão. Todo material utilizado na produção das “loiças” é colhido do Córrego de Areia, principalmente o barro, que é retirado de uma lagoa próxima. Para ela, o "barro bom" não é encontrado na superfície, pois vem misturado com pedra e areia, por isso é necessário perfurar bastante até encontrar o barro liso.
Se estiver muito seco, parecido como uma pedra, tem que ser colocado num alguidar grande para receber água até amolecer, o processo de hidratação pode demorar até uma semana. Depois de mole, a mestra estende o barro sobre um saco de plástico para começa a amassá-lo com os pés por cerca de uma hora ou quando observa que o barro já está liso e homogêneo o suficiente para ser modelado.
A parte que não será utilizada é armazenado e coberto com sacos de plástico, para não ressecar e endurecer novamente.
Sentada no chão, a louceira pega o barro com a mão, amassa novamente e inicia o processo de modelagem. A partir daí aquela matéria dura e sem cor dar vida a potes, panelas, jarros, e como diz pequeno “qualquer peça que você trouxer eu faço”.
O trabalho artesanal da louceira é totalmente manual e produzido por ela, pois até as “talinhas” e “paletinhas” que usa para auxiliar em seus moldes foi ela quem fabricou. O material é encontrado no talo da carnaúba e nos cacos da cuieira, árvores que são muito comuns na região Nordeste do Brasil, mas o formato único é feito pela por suas mãos talentosas.
Lúcia foi reconhecida como Tesouro Vivo da Cultura Popular, pelo Governo do Estado do Ceará há 20 anos e depois de mais de cinco décadas trabalhando com barro, obedece a seu próprio ritmo. Devido as doenças adquiridas com a idade não se senta mais chão, não produz mais diariamente e suas peças são vendidas apenas por encomendas.